Em visita a quatro empreendimentos comunitários que comercializam açaí, integrantes da caravana puderam levantar informações para subsidiar ações de parceria.

Integrantes do Instituto Terroá percorreram por 10 dias os rios e terras alagadas do arquipélago do Marajó, no Pará, durante a Caravana do Açaí. Além de vivenciar e conhecer o contexto da produção do açaí na região, a atividade coletou informações de empreendimentos comunitários para compreender as principais demandas e potencialidades destes empreendimentos e territórios.

A Caravana do Açaí foi a oportunidade de aproximação entre a rede Diálogos Pró-Açaí, da qual o Instituto Terroá realiza a secretaria executiva, e as organizações sociais comunitárias do Marajó. Foram visitados quatro empreendimentos comunitários: Cooperativa de Ribeirinhos Extrativistas Agroindustrial do Marajó, conhecida pelo nome fantasia Sementes do Marajó, e a Associação dos Pequenos Produtores Rurais Extrativistas e Pescadores do Rio Ipanema (APREPRI), no município de Curralinho; Cooperativa de agroextrativistas dos rios Aramã e Mapuá (Coama), no município de Breves; e Cooperativa Agroextrativista da Resex Terra-Grande Pracuúba  (Agronatu), em São Sebastião da Boa Vista.

Durante as visitas aos territórios, foi aplicada a “Escala de Maturidade para empreendimentos da cadeia de valor da sociobiodiversidade”, tecnologia social que auxilia na gestão e fortalecimento de empreendimentos comunitários que atuam com produtos da sociobioeconomia. “Ao possibilitar um olhar sistêmico e integrado sobre diferentes elos de uma cadeia de valor, a Escala permite uma análise completa da maturidade e o planejamento de ações futuras do negócio”, destaca Renata Guerreiro, coordenadora de projetos do Instituto Terroá. 

Além de mapear as necessidades dos empreendimentos, a escala aponta um conjunto de indicadores que também mensuram questões importantes como direitos humanos, salvaguardas socioambientais e questões de gênero. Os resultados deverão contribuir para o planejamento de ações futuras dos empreendimentos, além de apontar novas parcerias e principais potencialidades de investimentos. 

 

Produção de açaí

A cooperativa Sementes do Marajó, que congrega produtores de açaí do município de Curralinho, sobretudo moradores das margens do rio Canaticu, surgiu em 2014, fruto da luta pela melhoria na produção e comercialização do açaí. Em 2021, a cooperativa faturou cerca de 950 mil reais por meio de contratos já estabelecidos, com ressalva para o ano atípico em que o mundo ainda vivenciava os efeitos da crise provocada pela pandemia do Novo Coronavírus. Para 2022, a expectativa é que seja comercializado cerca de 4 milhões. 

A caravana esteve na sede da entidade e visitou açaizais nativos manejados pelos cooperados. De acordo com o presidente da entidade, Carlos Baratinha, é fundamental que organizações parceiras estejam em campo para acompanhar o cotidiano dos trabalhadores e observar os desafios de estabelecer uma cadeia de valor para o fruto. “Nós queremos diversificar nossa produção por meio da piscicultura, da roça, farinha de mandioca, hortaliças e hortifrutis. Mas para isso precisamos estar bem estruturados e o açaí é um produto que tem potencial para nos ajudar a chegar onde queremos”, destaca Baratinha.

Na expectativa de contribuir com a estruturação citada pelo presidente, a caravana levantou, por meio da Escala de Maturidade, as principais necessidades da entidade, entre elas a capacitação em técnicas de manejo sustentável a partir das boas práticas reconhecidas cientificamente; a implantação de assistência técnica contínua; instrumentos para garantir a rastreabilidade; outras captações de recursos por meio de parcerias com o terceiro setor, o que já ocorre e apresenta resultados substanciais.

 

Perspectivas

A realização da caravana contribui ainda com a rede Diálogos Pró-Açaí, que pretende, também, ampliar as articulações entre os participantes, com o objetivo de aproximar o mercado de produtores tradicionais e, ainda, desenvolver ferramentas para dirimir os desafios da cadeia do açaí na Amazônia. Esta foi a primeira etapa da atividade, que ocorrerá ainda em outros dois territórios no Pará: região tocantina e nordeste paraense, que apresentam dinâmicas territoriais, políticas e produtivas diferentes do Marajó. A partir das três caravanas a equipe executora do projeto poderá ter acesso a importantes dados sobre a cadeia produtiva do açaí e analisá-los para que sejam tomadas decisões que de fato promovam transformação, tanto social, quanto econômica e ambiental. A próxima caravana deve ocorrer ainda em 2022 e a última etapa em 2023.

 

Diálogos Pró-Açaí

O Diálogos Pró-Açaí é uma rede multissetorial criada em 2018 com o propósito de promover um debate qualificado em prol do fortalecimento e da sustentabilidade desta importante cadeia da sociobiodiversidade. Atualmente a iniciativa conta com 70 organizações parceiras e envolve mais de 100 representantes de setores governamentais, empresas, cooperativas e associações, instituições financeiras, incubadoras/aceleradoras, redes nacionais multissetoriais, sistemas de certificação, organizações do terceiro setor, universidades, centros de pesquisa e de assistência técnica.

A iniciativa se originou do “Projeto Mercados Verdes e Consumo Sustentável”, parceria entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e a Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ), contando com o apoio de execução do consórcio IPAM/EcoConsult e Instituto Terroá. Atualmente as mesmas organizações desta cooperação apoiam a iniciativa por meio do Projeto “Bioeconomia e Cadeias de Valor”.

Esta ação, implementada pelo Instituto Terroá, teve apoio do projeto Bioeconomia e Cadeias de Valor, desenvolvido no âmbito da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da parceria entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, com apoio do Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha.

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