Manter a floresta em pé é condição básica para a subsistência das mais de 50 comunidades que habitam os territórios do Arquipélago do Bailique e do Beira-Amazonas. Há gerações, a produção e o consumo do açaí (Euterpe oleracea e Euterpe precatoria) constituem não apenas a principal fonte de sustento dos comunitários, mas também a base alimentar das milhares de famílias residentes nas duas localidades, situadas na região estuarina do Rio Amazonas no Estado do Amapá. O incremento recente da demanda pelo produto nos mercados doméstico e internacional teve um impacto significativo sobre o desenvolvimento de ambos os territórios, trazendo inúmeros desafios à produção e colheita sustentáveis do açaí na região.  

Com o propósito de contribuir para a criação de soluções integradas que promovam o desenvolvimento sustentável, o Instituto Terroá tem atuado junto às comunidades do Bailique e do Beira-Amazonas tanto por meio da facilitação de processos de diferenciação e rastreabilidade (padrões, certificações e salvaguardas socioambientais) quanto do fortalecimento das cadeias produtivas e de mecanismos de governança local. Um componente fundamental desse repertório de práticas para a sustentabilidade tem sido a aplicação da tecnologia social “Escala de Maturidade para Empreendimentos e Cadeias da Sociobiodiversidade” junto à Amazonbai, Cooperativa de Produtores Agroextrativistas do Bailique e do Beira Amazonas, cuja mais recente edição foi realizada virtualmente ao longo do mês de abril de 2021. 

A Escala de Maturidade é uma metodologia do Instituto Terroá que olha para cada um dos elos das cadeias da sociobiodiversidade de forma sistêmica. Por meio dela, é possível identificar gargalos em nove diferentes dimensões, desde as etapas de produção até a comercialização, incorporando inclusive aspectos administrativos, de sustentabilidade e de parcerias do empreendimento, entre outros. Para além de identificar um percentual que representa o nível de maturidade, é possível observar com clareza desafios e gargalos, bem como propor ações mais concretas e focadas para o empreendimento. 

Nesse sentido, os membros da Amazonbai e outros parceiros envolvidos com a cooperativa puderam avaliar, nos diversos encontros virtuais realizados em abril, o nível de maturidade do empreendimento de acordo com as seguintes temáticas norteadoras: organização social e gestão territorial; manejo e conservação florestal; gestão financeira e administrativa; organização da produção; logística e transporte; industrialização, comercialização e legislação aplicável; e inovação. Em cada um dos encontros foram discutidas e avaliadas ao menos duas dessas temáticas. Ao final, um quinto e último encontro proporcionou aos cooperados da Amazonbai e aos demais parceiros a oportunidade de avaliar os resultados da aplicação e formular um plano de ações prioritárias para o ano de 2021. 

Para o presidente da Amazonbai, Amiraldo Picanço, “a escala de maturidade é um instrumento de gestão que é fundamental para a cooperativa. Todo o trabalho que é feito desde a área de produção até a comercialização do produto final tem alguns indicadores que é importante serem avaliados, para saber o desempenho de todas as etapas da cadeia do açaí, como a certificação, questões da área de manejo e gestão administrativa. Nós acreditamos que esse instrumento da Escala de Maturidade só vem fortalecer a gestão da cooperativa Amazonbai”.

Desde 2018, o Instituto Terroá facilita a aplicação da Escala de Maturidade junto à Amazonbai, tendo intensificado a interação e o diálogo com os cooperativados ao longo dos últimos anos. Maria Luiza Benini, coordenadora de projetos do Instituto Terroá, relata as adaptações necessárias à aplicação da Escala de Maturidade em um contexto desafiador como o da pandemia de COVID-19: “Normalmente, a aplicação da Escala é feita presencialmente, mas esse ano, por conta da pandemia, adaptamos a metodologia para aplicar tudo virtualmente. Dessa vez, dividimos a aplicação em quatro encontros e, como a Amazonbai tem muitos parceiros, convidamos os envolvidos com cada dimensão da Escala para participar dos encontros. Com isso, a gente conseguiu entender com muito mais profundidade e propor mais ações de fortalecimento e resoluções de gargalos o que se aplicássemos presencialmente, então tivemos um ganho enorme com a modificação da metodologia”.

A maturidade da cooperativa manteve-se no mesmo patamar da última avaliação, realizada no ano passado. O resultado foi considerado como algo positivo, em especial dado o contexto da pandemia e grandes dificuldades na safra passada. Destaque tanto para os altos índices de maturidade em manejo dos açaizais – principalmente o padrão de diversas certificações socioambientais – quanto para a organização da produção, já em preparação para a nova safra. A busca por oportunidades relacionadas a finanças verdes, como patrocínios de carbono, também foi um diferencial que ampliou a maturidade da organização. Para os cooperados, um ótimo nível de planejamento e organização da safra de 2021, que já começou, será um ponto-chave para fortalecer o profissionalismo e a maturidade da cooperativa ainda este ano.

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