Na II Conferência Terroá – Diálogos Sustentáveis, academia, empresas e sociedade civil dialogaram sobre como parcerias intersetoriais podem fortalecer a busca pelos ODS em uma nova conjuntura.

A Agenda 2030 estabelece os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), coordenados pela ONU, que definem 17 objetivos globais e 169 metas em diversas áreas, de forma transversal e multidisciplinar. Paralelo e completar à Agenda 2030, o Acordo de Paris tem como objetivo fortalecer a resposta global à ameaça das mudanças climáticas. Ele foi aprovado por 195 países participantes que se comprometeram a reduzir emissões de gases de efeito estufa e estabelecer metas nacionais para tal redução – as contribuições nacionalmente determinadas (iNDCs).

Indicado como futuro Ministro do Meio Ambiente no governo do presidente eleito Jair Bolsonaro, que assumirá em janeiro, Ricardo Salles descreveu o aquecimento global e as mudanças climáticas como algo “secundário” e afirmou que o governo analisará se o país deve permanecer, ou não, no Acordo de Paris, temendo eventuais riscos à “soberania nacional”. Salles afirmou também que dados relativos ao aumento do desmatamento na Amazônia precisam ser verificados e que o objetivo será “preservar o meio ambiente sem ideologia”. Salles foi recentemente condenado em primeira instância pelo Tribunal de Justiça de São Paulo por improbidade administrativa, sob acusação de fraudar o plano de manejo da várzea do Rio Tietê em benefício de mineradoras e empresas filiadas à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).

Nos EUA, apesar da decisão tomada pelo presidente Donald Trump de sair do Acordo de Paris, alguns governadores e prefeitos mantiveram seu compromisso com o Acordo e com a Agenda 2030. Como garantir que nossas cidades tenham a mesma maturidade? Como influir nas políticas públicas nacionais, estaduais e municipais para garantir o mínimo retrocesso possível? E, para além das políticas públicas, como continuar construindo exemplos de experiências bem-sucedidas para atingir impactos socioambientais positivos, em parcerias intersetoriais entre a sociedade civil e empresas?

Com essas reflexões em mente, os participantes da II Conferência Terroá – Diálogos Sustentáveis puderam refletir sobre estratégias individuais e coletivas de atuação através de diálogos participativos e abordagens que facilitassem a troca. O evento ocorreu no dia 15 de dezembro, das 8h30 às 12h, no Recanto Bossas Nova, sede do Instituto Terroá em Ribeirão Preto.

Na primeira atividade, foi realizada uma dinâmica conhecida como Aquário, na qual convidados especiais contribuíram com falas introdutórias que incentivassem o diálogo e a reflexão. Adriana Silva, vice-presidente do IPCCIC, vice-presidente da Fundação do Livro e da Leitura e diretora executiva do Instituto Ribeirão 2030, trouxe uma análise dos movimentos ligados à sociedade civil ribeirão-pretana a partir dos estudos do IPCCIC e do Instituto Ribeirão 2030. Adriana indicou a necessidade de um diagnóstico mais profundo e detalhado sobre a sustentabilidade na gestão pública de Ribeirão Preto, bem como dos atores ligados à temática no município.

Carla Roxo, assessora parlamentar, arquiteta e urbanista, trouxe sua avaliação do que tem sido feito pela prefeitura de Ribeirão Preto em busca da municipalização dos ODS e da aplicação da pauta da sustentabilidade como um todo. A participante ressaltou a necessidade de que haja maior articulação da sociedade civil para incidir politicamente em defesa da sustentabilidade, especialmente no momento em que a cidade se encontra de revisão do Plano Diretor e construção das suas leis complementares.

Daniel Bellissimo, economista e diretor institucional no Instituto Terroá, trouxe uma análise dos distintos setores empresariais, nacionais e locais, de quais são as suas perspectivas a respeito da nova conjuntura e do que se pode esperar sobre sua atuação mais ou menos madura no que se refere à sustentabilidade empresarial e territorial. Para Daniel, “A sustentabilidade deve ser vetor estratégico para os negócios, uma bandeira incorporada de forma sistêmica por todas as áreas da empresa, não apenas um setor à parte, encarado como gerador de despesas, caritativo e menos essencial. Afinal, investimentos em sustentabilidade ao longo de toda a cadeia de valor empresarial podem e devem trazer retorno econômico, por reduzir perdas, evitar custos e gerar receitas a partir da inovação em processos, parcerias e relações institucionais, produtos ou modelos de negócio”.

Após esse primeiro momento de diálogo e reflexões, o evento seguiu para uma dinâmica conhecida como World Café, ou Café Mundial, com o objetivo de desenharmos estratégias individuais e coletivas sobre como sociedade civil, empresas e governos, isolada ou conjuntamente, podem desenvolver ações em busca da localização dos ODS.

Os principais caminhos encontrados pelos participantes passaram pelo desenho de estratégias e possíveis soluções para: i) a articulação entre sociedade civil, empresas, universidades e governo em prol das pautas da sustentabilidade; ii) a educação e a disseminação dos ODS nos diferentes territórios e espaços de maneira lúdica e prática, utilizando metodologias ativas e escuta qualificada, para ouvir as potencialidades e demandas de cada público; iii) a gestão empresarial para a sustentabilidade, que supere as possíveis contradições do sistema econômico atual ao inovar com estratégias da nova economia – circular, criativa, colaborativa, solidária e centrada no empreendedorismo de impacto socioambiental positivo; e iv) o aumento de resiliência dos territórios, especialmente dos territórios vulneráveis, a partir da formação de lideranças conscientes dos desafios, potenciais e caminhos para a sustentabilidade territorial, em sinergia com demais atores presentes nos territórios (ONGs, universidades, governos e empresas).

Por fim, como uma provocação de boa parte dos presentes, já foi definida uma próxima reunião no espaço do Fórum de Inovações Urbanas e Sustentabilidade, em data e local a serem definidos, para pautar a cocriação de uma coalização, movimento ou rede em prol da sustentabilidade ribeirão-pretana. Tal movimento deverá construir sua Carta de Princípios, congregar um mapeamento participativo das iniciativas em prol da sustentabilidade na cidade, bem como desenvolver estratégias para diagnóstico e proposição de soluções para a localização dos ODS em Ribeirão Preto.

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