Durante sete dias, jovens lideranças de 18 países da América Latina e do Caribe se reuniram para discutir a Convenção da Diversidade Biológica (CBD), acordo internacional realizado entre todos os países da ONU – com exceção dos Estados Unidos – , sob a tutela da ONU Meio Ambiente (UNEP), que busca frear a perda da biodiversidade sendo experienciada pelo mundo moderno. O evento, intitulado Workshop for Capacity Building – Latin America and Caribbean foi organizado pelo Global Youth Biodiversity Network (GYBN) em conjunto com o Engajamundo e contou com a participação e apoio do Instituto Terroá. O encontro ocorreu de 16 a 23 de fevereiro, na Ilha do Cardoso, município de Cananéia-SP.

O Plano Estratégico da CBD para a década 2011-2020 definiu 20 metas a serem alcançadas, as chamadas Metas de Aichi. No entanto, como pôde ser observada durante o workshop, a maioria dessas metas ainda não foi alcançada, nem se encontra no caminho para tal. Assim, com foco na criação de novas propostas de modificação e/ou revisão dessas metas, os jovens buscaram identificar gargalos e novas oportunidades para implementação do Plano Estratégico da CBD para a próxima década (2021-2030).

Além da parte teórica, sobre a história de criação e organização institucional da CDB, muitas oficinas buscaram capacitar os participantes para que se tornem vetores de mudança em seus contextos específicos. Dentre as atividades realizadas, foram realizadas, por exemplo, a construção de uma visão coletiva de longo prazo com objetivos específicos e atingíveis; a identificação das causas-raízes da perda de biodiversidade; além de visitas a campo para reconhecimento da biodiversidade local da Ilha do Cardoso.

Uma atividade particularmente comovente se deu no início da noite da quarta-feira (20/02), na qual foi feita uma homenagem a alguns ativistas ambientais mortos por toda América Latina e Caribe. Uma vela para cada ativista foi acesa e alguns jovens compartilharam suas experiências dolorosas, vivenciadas pela perda de pessoas próximas. Um dos participantes fez menção ao forte apelo, pontuando que uma daquelas velas, num futuro incerto, poderia ser destinada a algum participante do workshop.

Flávia Martinelli, do comitê facilitador do Engajamundo, e uma das organizadoras do evento, faz um apanhado geral sobre a semana: “Quando começamos a articular o encontro tínhamos como um dos objetivos principais criar uma conexão entre os jovens latino-americanos e caribenhos e fortalecer os movimentos dos jovens em favor da biodiversidade dentro da rede do GYBN. Saio do encontro surpreendida com as amizades que foram feitas apesar das barreiras linguísticas, feliz com toda troca que aconteceu entre os jovens (principalmente entre os jovens de comunidades tradicionais e os urbanos) e sabendo que cada participante aqui foi de alguma forma transformado pela troca de experiência. Nós do Engajamundo esperamos que os laços criados permaneçam e que a esperança que nasceu no coração de cada um seja transformada em novas ações locais, regionais e globais”.

Após toda preparação oferecida na semana, os jovens se dividiram em grupos por região geográfica (nacionalidade ou microrregião) e propuseram um projeto para a implementação da CBD a ser realizado nos próximos seis meses. Além de aumentar a conscientização sobre o tratado, esses projetos buscam discutir propostas para o próximo Plano Estratégico da CBD (2021-2030). Todos estes projetos foram apresentados no sábado (23/02), no Fórum Público realizado na Câmara dos Vereadores de São Paulo. Este evento buscou apresentar à sociedade brasileira as conclusões da semana de capacitação, além de discutir a importância da própria CBD.

O Fórum contou com a participação do ex-Secretário Executivo da CBD, Bráulio Ferreira de Souza Dias, além de outras participações, como o ponto focal da Juventude na CBD Chantal Robichaud – que também participou da semana de capacitação –, Letícia Leite do Instituto Socioambiental (ISA), Paul Dale, da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, além de integrantes de comunidades tradicionais (Daiana Machado, do Arquipélago do Bailique (AP), e Milena Raquel, representante do movimento indígena Tupinambá do Tapajós (PA).

O Instituto Terroá também esteve representado no fórum, com a participação do diretor institucional Daniel Bellíssimo. Na mesa redonda em que participou, Daniel tratou sobre os trabalhos da instituição com jovens, no ambiente urbano e na Amazônia. Também apontou a importância da facilitação de processos para o desenvolvimento territorial e o humano são essenciais para esse processo. Para Guilherme Bircol, que representou o Terroá durante todo o evento, enfatizou que “junto a demais jovens de toda América Latina e Caribe foi possível notar o quão similares os problemas que enfrentamos são, assim como as dificuldades para se propor soluções. Fortalecer essa rede de conexões criadas durante o evento nos coloca um passo mais próximos do sucesso da CBD”.

Já Daiana Machado, uma das jovens lideranças e representante do Arquipélago do Bailique – território onde o Instituto Terroá também atua com o objetivo de ajudar a fortalecer a cadeia de valor do açaí – compartilha sua experiência de ter participado da semana: “No meu ponto de vista, o workshop é muito importante porque muitos jovens não tem noção do que está acontecendo no mundo. Trazer os jovens para conversar, visando mostrar o quanto podemos fazer para mudar e melhorar nossa qualidade de vida, é muito importante. Não só melhorar a qualidade de vida como, de fato, ter vida futura, dada a situação ambiental em que nos encontramos hoje”. Sobre a situação da população que vive na região amazônica, disse: “Nós que vivemos lá ‘dentro do mato’ temos muita dificuldade de acessar informação. Ouço muitas pessoas falando que a internet veio para ajudar, que devemos utilizá-la para alcançar o maior número de pessoas, mas a realidade é que o acesso a internet ainda é muito pequeno para nós. Se só a internet for utilizada, nós, que sofremos as consequências diretas dos problemas ambientais, continuaremos sem acesso à informação”.

Como próximos passos, as lideranças voltam a seus países e suas comunidades para desenvolver os projetos propostos. O GYBN se propôs a contribuir, oferecendo suporte a esses jovens, inclusive por meio de reuniões mensais para acompanhar e monitorar o progresso das atividades. Provocar espaços de diálogo como esse é de grande relevância para a formação de líderes globais que atuem imbuídos de valores humanos universais frente aos desafios e conflitos que os contextos locais apresentam. Que os jovens sejam cada vez mais transformadores, pensando sistemicamente de maneira global e agindo localmente em seus territórios e comunidades.

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