Daniela Vilela

Para muitos a palavra “floresta” representa duas situações que em geral são vistas como dicotômicas, fonte de madeira ou preservação. Entretanto, temos visto recentemente o que os povos tradicionais já sabiam há muitas gerações, que produção e conservação podem conviver harmoniosamente, desde que a floresta seja manejada de forma sustentável.

A floresta é mais que uma simples fonte de madeira. Dela podemos obter uma gama diversa de produtos não madeireiros, como óleos, resinas, frutos, e outros serviços essenciais, os chamados serviços ecossistêmicos, que são os benefícios que podemos obter das florestas.  Dentre estes benefícios podemos citar serviços de provisão como água e alimentos; serviços de regulação como controle da qualidade do ar, sequestro e estoque de carbono; serviços culturais como recreação e experiências espirituais; e serviços de suporte como produção de oxigênio e ciclagem de nutrientes.

E estes serviços ecossistêmicos podem ser melhorados quando é realizado o manejo responsável da floresta, por isso devemos reconhecer e valorizar estes bons manejadores.

Para permitir uma medição com credibilidade dos impactos do bom manejo, e passar confiança àqueles que desejam apoiar boas práticas, algumas ferramentas vêm sendo criadas, como o procedimento do FSC (do inglês Forest Stewardship Council) para Serviços Ecossistêmicos. Esta é uma grande tendência de mercado, pois permite um reconhecimento adicional para ações que beneficiam a todos.

Porém, ainda existem desafios para que o mercado de serviços ecossistêmicos traga benefícios para a floresta e seus manejadores. Primeiro é necessário regular este mercado, e já existem movimentos acontecendo por parte de governos. Depois os manejadores devem aplicar as ferramentas de verificação, o que normalmente é um desafio. Tanto a compreensão destas normativas, quanto o levantamento de informações para atender aos requisitos podem se mostrar complexos. Por isso, casos de sucesso devem ser compartilhados.

A Amazonbai, uma cooperativa de produtores de açaí localizada no Amapá, obteve a certificação FSC para o seu manejo florestal em 2016, e utilizando o procedimento FSC para serviços ecossistêmicos, em 2019 conseguiu também verificar seu impacto positivo na biodiversidade local e no sequestro de carbono. Agora estão conseguindo patrocínios de organizações externas para continuarem seu trabalho. Ou seja, um exemplo real de reconhecimento e apoio financeiro para o manejo responsável dos açaizais.

Existe grande potencial nos serviços ecossistêmicos, e na sua valoração, para produtos da sociobiodiversidade. Eles podem oferecer aos manejadores florestais um incentivo adicional para a manutenção da floresta em pé – em vez de buscarem ganhos econômicos pelo desmatamento e degradação florestal. Além disso, ferramentas sérias de verificação podem aumentar a confiança de governos, investidores e compradores envolvidos nos mercados de serviços ecossistêmicos, e fornecer a oportunidade para que comuniquem seu compromisso com a melhoria das florestas.

 

 

Daniela Vilela
Engenheira Florestal, especialização em Sistemas de Gestão da Qualidade
FSC Brasil, Diretora Executiva

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