Por Marcos Allan dos Santos*

 

Atualmente já está bem estabelecido o entendimento de que a cadeia produtiva do açaí necessita de tecnologias estruturantes, mas o modelo a ser implantado e as barreiras a serem vencidas ainda estão nos seus estágios iniciais.

Algumas ações ainda estão em implantação ou seus resultados ainda são preliminares, como a iniciativa Amazônia 4.0 dos irmãos Nobre, que consiste na instalação de biofábricas no coração da floresta amazônica, onde envolverão tecnologias como blockchain, drones, sensores e energia fotovoltaica, ou, modelos mais radicais, como a fábrica flutuante para processamento do açaí, a balsa-fábrica, concebida pelo grupo Bertolini e Valmont, que propõe a compra direta de açaí das comunidades ribeirinhas residentes nas calhas do rio Solimões ao Madeira. Contudo, a ausência de educação tecnológica, rastreabilidade e uma infraestrutura mínima, comprometem a aplicação de qualquer modelo que possa organizar a cadeia, estruturá-la desde a origem, e ainda, melhorar a qualidade de vida das comunidades ribeirinhas que sustentam a base da cadeia de valor do açaí.

Se os benefícios da tecnificação da cadeia ficarem retidos na agroindústria, o modelo exploratório da floresta e de seus extrativistas vai se perpetuar, aumentando assim a desigualdade social, a pressão das indústrias sobre as comunidades e a “açaização” das várzeas.

A tecnologia deve ser aplicada principalmente na origem da cadeia, onde os agricultores familiares poderão incorporar novas práticas sustentáveis de manejo associadas à sistemas de rastreabilidade adequados ao bioma e cultura dos povos ribeirinhos, bem como adequá-los às demandas da Instrução Normativa Conjunta n°02/2018 – MAPA/ANVISA. Nessa direção, podemos citar o projeto piloto de Rastreabilidade por QRcodes 3D, financiado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional, que está sendo implantado pela Universidade Federal do Pará na Rota do Açaí da região do Baixo Tocantins, onde o fruto in natura será rastreado desde a origem por meio de QRcodes impressos em 3D com material biodegradável e compostável, estes serão fixados nas rasas ou baquetas e decodificados por aplicativo intuitivo próprio. Além disso, o sistema de rastreabilidade desenvolvido especialmente para a cadeia do açaí, conta com um contrato de integração que garante o “compliance” entre os elos da cadeia, preservando preços justos e práticas sustentáveis entre os elos.

Somente com a implantação de tecnologias estruturantes na origem da cadeia, a qualificação das comunidades ribeirinhas por meio da educação tecnológica e a melhoria da infraestrutura, como por exemplo, a ampliação das redes móveis 5G na região amazônica, propiciará agregação de valor ao açaí de várzea, e consequentemente, a tão almejada “bioeconomia da floresta em pé”.

*Dr. em Eng. Elétrica (UFPA), com doutorado sanduíche em Eng. Metalúrgica e de Materiais pela Universidade do Porto (Portugal), Msc. em Eng. Elétrica (UFPA) e bacharelado em Física (UFPA). Professor da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia (UFPA) do PRODERNA/UFPA.

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